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14 de novembro de 2010

Jogos cooperativos, visão geral e classificações

Os jogos cooperativos tiveram seus princípios desenvolvidos por Terry Orlick, psicólogo canadense, na década de 70. Ele constatou que os jogos reproduziam valores da sociedade, embora tal questão já houvesse sido explorada quanto as seus pressupostos históricos onde se pode constatar a prática em varias culturas pelo mundo, tendo também sua sistematização a partir da década de 50 através do trabalho pioneiro de Ted Lentz. A partir de então estudos e programas usando jogos cooperativos foram utilizados em vários países, tendo como inspirador os trabalhos de Terry Orlick com sua obra “Vencendo a Competição”.
A partir da observação dos jogos Orlick desenvolve seu trabalho sobre jogos cooperativos observando que a cultura ocidental é impregnada pelo incentivo a competição, sendo que com o desenvolvimento social e suas repercussões sociais esta postura competitiva veio a ser questionada quanto a seus valores e o seu impacto na formação dos sujeitos, cidadão que compõe a própria sociedade e como suas relações contribuíam ou não para o desenvolvimento social nos mais diversos sentidos. È neste cenário que os jogos cooperativos emergem com o uma resposta a tal situação enquanto meio para contribuir na construção de uma sociedade com relacionamentos onde a cooperação seja agente propiciador para criação de valores sociais em maior sintonia com as necessidades do mundo atual, tendo em vista que com a globalização a necessidade de convivência social transcende a idéia do indivíduo isolado pleno de sua capacidade competitiva.
Instituições com visão mais ampla da necessidade e as vantagens das ações calcadas na cooperação passam a voltar seu apreço a pessoas que estejam prontas a agir de maneira cooperativa. Ampliando o olhar para este ponto de vista em termos sociais, o cidadão passa a ser considerado como sujeito social imbuído de seus direitos e deveres inseridos em um contexto com o qual deve interagir de maneira responsável, ética, solidária e comprometida com o desenvolvimento sócia do qual é participante juntamente com todos os outros que a compõe. Deste modo ações na área de educação passam a vislumbrar e desenvolver a cooperação como estratégia de formação do cidadão.
Neste contexto os jogos cooperativos têm grande valor enquanto meio para se promover ações que formem estes cidadãos.
Promover ações que incentivem a cooperação em uma sociedade que tem raízes em uma cultura de competição abre espaço para reflexões quanto às características que diferenciam jogos competitivos de jogos cooperativos, para tanto através do quadro abaixo se busca ilustrar esta diferenciação.

Jogos cooperativos
Jogos Competitivos
Visão de que tem para todos
Visão de que só tem para um
Objetivos comuns
Objetivos exclusivos
Ganhar com o outro
Ganhar do outro
Jogar com
Jogar contra
Confiança Mutua
Desconfiança suspeita
Descontração
Tensão
Solidariedade
Rivalidade
A vitória é compartilhada
A vitória é somente para um

A possibilidade de participar de um jogo onde todos ganham conflita com a idéia da competição onde haverá um vencedor com a eliminação dos demais. Deste modo pode parecer estranho a uma pessoa acostumada a participar de jogos competitivos se envolver com uma proposta na qual a competição dá lugar a cooperação.
Segundo Orlick:

A diferença principal entre jogos cooperativos e competitivos é que nos jogos cooperativos todo mundo coopera e todos ganham, pois tais jogos eliminam o medo e o sentimento de fracasso. Eles reforçam a confiança em si mesmo, como uma pessoa digna e de valor.”

O mesmo autor classifica o jogo cooperativo em categorias segundo o grau com que a possibilidade de cooperação é explorada como apresentado no quadro abaixo:

Tipo de jogo
descrição
Jogos cooperativos sem perdedores
Todos jogam juntos para superar um desafio
Jogos cooperativos de resultado coletivo
São formadas equipes que devem unir esforços cooperando coletivamente para alcançar o objetivo ou meta
Jogos de inversão
A inversão é feita para se desestimular o enfoque na vitória, assim as equipes passam por rodízio de seus participantes de acordo com o resultado obtido.
Jogos semicooperativos
As equipes jogam uma contra a outra, mas o enfoque é voltado para a participação ativa e a diversão.

Obs.: Segundo Orlick, há a necessidade de se adaptar as atividades ao grupo ao qual se ira propor o jogo procurando oferecer tarefas que se apresentem como um desafio adequado ao grupo e as pessoas.

Outra possibilidade de classificação é apresentada por Magda Villa e Paula Falcão segundo a visão de David Earl Plats que propõe uma classificação dos jogos cooperativos baseado em sua finalidade como instrumento de aprendizagem, integração e visão sistêmica. A partir desta visão Villa e Falcão propõe a seguinte classificação seguidas de algumas dicas para aplicação.

Tipo de jogo
Descrição
Dicas
Jogos de Quebra-gelo e Integração
São jogos de abertura, nomes, ação, folia, musicais e com dança. São jogos curtos e com altas doses de ação e gasto de energia. Servem para unir o grupo desde o início da sessão, ajudando os participantes a memorizar o nome de cada um, começar um contato e se descontraírem. Os jogadores se soltam, aquecem, descarregam as tensões físicas e superam reservas pessoais. Devem ser usados nas primeiras fases de desenvolvimento do grupo, no início de cada reunião, após intervalos e todas as vezes que o focalizador sentir que a energia e motivação da equipe estão diminuindo.
Torne pessoal, mantenha pessoal, seja pessoal.
*Crie um espaço seguro e convide as pessoas para ele.
*Modele – mostre o que você espera da equipe.
*Quando trabalhar com co-focalizador, combine antes quem faz o que – divida as tarefas igualmente.
*Respeite a estrutura das pessoas.
*Evite negociar o que não for negociável.
*Seja mais generalista do que detalhista.
*Seja flexível e mostre aos participantes que existe a possibilidade de mudança.
*Mostre que percebeu os distúrbios.
Jogos de Toque e Confiança
Depois que o gelo foi quebrado, o objetivo do treinamento ou vivência pode começar a ser gradualmente trabalhado. Estes jogos ajudam os participantes a observar como lidam com a confiança em suas vidas. Conforme as pessoas forem se abrindo podemos passar aos exercícios de toque. Os jogos de toque e confiança devem ser utilizados com bastante cuidado, o focalizador deve estar atento ao momento do grupo e às reações de cada participante, assegurando-se de que o momento é este, pois eles podem disparar processos psicológicos internos.
Seja sensível aos seus próprios processos psicológicos.
*Segure o foco sutilmente – seja direto e facilite.
*Seja sensível a processos psicológicos inconscientes tanto seus quanto dos participantes.
*Encoraje e dê suporte a responsabilidade interna do grupo – faça com que eles sejam menos dependentes dos focalizadores.
*Dê mais de si mesmo.
*Esteja preparado para flexibilizar seus planos e para mudanças espontâneas.
*Evite reagir ao grupo – nesta fase você pode estar sendo
testado.
*Mantenha o foco no assunto do trabalho.
*Evite guiar os participantes e dar soluções prontas.
Jogos de Criatividade, Sintonia e Meditação
São jogos que estimulam a expressão da imaginação, intuição e criatividade. Nestes jogos os participantes podem se autoperceber e mostrar abertamente aos outros o que descobriram acerca de si mesmos e do grupo. Os participantes também fazem contato com seu próprio interior e com o grupo, percebendo o "maior" em todos os níveis. Neste momento o grupo já está completamente integrado, trabalhando junto e com plenas condições de aprofundar e introjetar o que foi visto até agora.
*Encoraje os participantes a serem positivos e procurarem soluções.
*Dê ferramentas que eles possam usar e levar para casa.
*Reforce o suporte do grupo.
*Trabalhe com perdão, amor e transpessoalidade.
*Evite dar falsas esperanças.
*Mantenha o foco original, evitando começar a trabalhar um novo assunto agora.

Jogos de Fechamento
Estes jogos servem para dar às pessoas a chance de se posicionarem em relação ao grupo e a si mesmas, transferindo o que fizeram no treinamento ou vivência para o seu dia-a-dia.

*Assegure-se de que o assunto está realmente fechado e que os participantes têm consciência de que o treinamento ou a vivência terminou.
*Evite continuar com assuntos anteriores.
*Ponha os pés do grupo no chão, tenha certeza de que eles estão preparados para ir embora.
*Termine sempre com uma nota positiva.
*Se o treinamento ou vivência disparou algo em um dos participantes que ainda não pode ser trabalhado ou concluído, feche com os outros participantes e a seguir trabalhe com o remanescente até encerrar o assunto.

Considerações finais:
A importância dos jogos cooperativos como meio para explorar novas formas de convivência grupal é de inestimável valor para inúmeras propostas de trabalho oferecendo condições para propiciar experiências favoráveis para mudanças de comportamento de convívio social, mas vale ressaltar a orientação de Orlick quanto a adequação das atividades ao grupo que se vai trabalhar, fator determinante do sucesso das atividades propostas.

Referências:

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